♟️ A Hora do Urso
- Alexandre Palazzo
- 9 de mar.
- 10 min de leitura
Atualizado: 17 de mar.
Um guia para sobreviver ao bear market
Resumo:
1. Bear Market é algo normal, ainda que desafiador: o S&P 500 enfrentou desde 1950 onze períodos de queda forte, com perdas médias de 33% e duração de 14 meses. É doloroso, mas faz parte do ciclo.
2. Ativos de proteção como Tática: Ouro, títulos do Tesouro americano e dólar são opções para se proteger na crise. Em 2008, por exemplo, o ouro subiu 5% enquanto o S&P 500 caiu 38%, mas o timing é crucial (e a prata pode ser uma opção melhor dessa vez).
3. Estratégia All Weather: Inspirada em Ray Dalio, uma carteira diversificada (ações, títulos, ouro, commodities) aguenta qualquer cenário. Em 2008, esse tipo de portfólio caiu bem menos que o mercado, oferecendo estabilidade o ano todo.
4. Psicologia é o maior risco: O pânico leva a decisões ruins, como vender na baixa. Estudos mostram que investidores perdem 1,7% ao ano em média por emoção, como os saques em massa de 2009, antes da recuperação.
5. E o Brasil? O Ibovespa é mais volátil, então dólar e ouro ganham peso, além de ações defensivas como energia. O plano é ter preparo tático, estratégico e mental para sobreviver e crescer pós-crise.

Imagine a cena: o S&P 500, o índice que reúne as 500 maiores empresas dos EUA, começa a vacilar. A média móvel de 200 dias – um dos termômetros mais consultados pelos traders – é perdida de vez, e o mercado despenca. As manchetes explodem com “CRISE À VISTA!”, seu grupo de WhatsApp vira um festival de profecias do fim do mundo, e você se pergunta: “E agora?”. Bem-vindo ao bear market, o “mercado de urso”, quando os preços caem 20% ou mais desde o pico. Mas, antes de sair vendendo tudo ou se escondendo debaixo da cama, vamos respirar fundo e analisar o que está acontecendo – incluindo alguns sinais novos no horizonte para 2025.
Neste artigo, vamos falar de táticas para se proteger, estratégias de longo prazo para não ser pego desprevenido e o lado psicológico para não surtar quando o barulho aumenta. Pegue um café (ou algo mais forte, se preferir) e vem comigo!
O Bear:
Um bear market não é só uma quedinha passageira – é um tombo prolongado, alimentado por pessimismo crescente que leva ao pânico. Em termos mais técnicos, não é uma correção mas sim uma mudança de tendência do mercado. Desde 1950, o S&P 500 passou por 11 delas, com quedas médias de 33% e duração de uns 14 meses, segundo a CFRA Research. O mais recente antes de 2025 foi em 2022, quando o índice caiu 25% por causa de inflação alta e juros subindo. Agora, em março de 2025, os gráficos estão inquietos de novo. Mas será que o urso vem mesmo? Vamos “ligar o observador” e tentar destrinchar os sinais.
Indicadores antecedentes, coincidentes e atrasados:
Os indicadores antecedentes – aqueles que se movimentam antes da economia propriamente dita e podem nos dar uma direção de médio prazo para o mercado – estão piscando luzes amarelas e vermelhas. O yield curve (a curva de juros dos títulos americanos, do mais curto para o mais longo), por exemplo, ficou invertida por meses em 2024, um clássico sinal de recessão à frente. Historicamente, isso acertou em 8 das últimas 10 recessões nos EUA, segundo o Federal Reserve de São Francisco. Outro dado preocupante é o Conference Board Leading Economic Index, que caiu 4,5% nos últimos 12 meses até fevereiro de 2025 – quedas assim costumam anteceder retrações econômicas.
Se o S&P 500 romper suportes técnicos importantes (como a média móvel de 200 dias ou os 5.500 pontos), o pânico pode amplificar a queda. O principal índice de ações americanas funciona como um indicador coincidente, ou seja, ele vai junto (por vezes segue, por vezes provoca) com o apetite por risco, com a agressividade, com o bom humor do mercado quando ele prevê crescimento e estabilidade. No caminho contrário, o índice mostra que o pessimismo chegou pra ficar, que a aversão ao risco vai tirar dinheiro da bolsa mas também das empresas, que vão investir menos, demitir mais e pensar mais em sobrevivência do que crescimento. Estamos muito perto de testar estes suportes técnicos importantes.
O mercado de trabalho ainda segura as pontas, com desemprego baixo (perto de 4%), e os lucros corporativos do S&P 500 subiram 8% em 2024, segundo a FactSet. Mas o desemprego é um indicador atrasado, ou seja, quando ele resolve subir é porque o barco já afundou. Empresários (ao contrário do que os jornais dizem) não gostam de demitir. Custa caro treinar e depois jogar fora um bom trabalhador. O desemprego aumenta quando a empresa precisa cortar gastos já que suas receitas caíram a ponto de ameaçarem a estabilidade do negócio, e isso costuma acontecer no fim da queda do mercado, e não no começo.
Tática: ativos de proteção para o kit de sobrevivência
Se o urso aparecer, ter um “colete salva-vidas” na carteira ajuda. Aqui entram os ativos de proteção, que podem ser comprados por quem não tinha uma estratégia definida e foi pego de surpresa pelas mancehetes recentes:
Ouro: O queridinho das crises. Em 2008, enquanto o S&P 500 derretia 38%, o ouro subiu 5%. Em 2022, ele segurou firme com alta de 1%. Não é milagre, mas amortece o tombo. Como o ouro já está batendo recorde de preços, pode ser uma boa considerar a prata, que costuma subir depois - mas com muita força. Avalie bem os metais e seus movimentos de preço antes de comprar.
Títulos do Tesouro americano (Treasuries): Os de longo prazo ganham valor quando os juros caem – algo que o Fed pode fazer se a economia desacelerar. Em 2020, foram um alívio na pandemia. Mas cuidado: se a crise for do tipo “estagflação”, quando preços seguem subindo mesmo tendo o PIB virado para baixo, os juros longos não caem e os títulos não se valorizam. Considere papéis de curto prazo nesse caso, ou Money Markets.
Dólar: No Brasil, o dólar é um escudo extra, já que o real costuma apanhar em crises globais. Em 2022, subiu 8% contra o real enquanto o Ibovespa caía 20%. Ter ativos em dólar protege o seu patrimônio em reais mesmo que esses ativos caiam um pouco lá fora, já que a queda é neutralizada pelo câmbio.
O pulo do gato é o timing. Comprar ouro ou querer dolarizar a carteira depois que o mercado já caiu 20% pode ser como buscar o guarda-chuva depois da tempestade. Planeje antes. E o melhor jeito de planejar antes é ter uma estratégia!
Estratégia: All Weather de Ray Dalio
Se correr atrás do prejuízo não é seu estilo, que tal uma estratégia à la Ray , um dos maiores e mais vitoriosos investidores da história? O All Weather Portfolio do lendário gestor da Bridgewater foi feito para aguentar qualquer tempo: 30% em ações, 40% em títulos de longo prazo, 15% em títulos de curto prazo, 10% em ouro e 5% em commodities. Em 2008, enquanto o S&P 500 levou um tombo de 38%, carteiras assim caíram só 10-15%. No Brasil, pode-se adaptar o portfolio com BDRs de ETFs, Tesouro Direto e fundos cambiais, entre outros. Não é o tipo de coisa que te deixa rico em um bull market, pois fica com o freio puxado na alta, mas evita desespero quando o urso ruge. Se você quiser ajuda para montar uma carteira assim, sugiro fortemente que marque um horário com nossos planejadores financeiros. O Daniel, por exemplo, usa a estratégia do Ray Dalio adaptada ao mercado brasileiro. Eu uso essa estratégia também, mas de forma um pouco mais complexa para investidores iniciantes, pois envolve ativos no exterior, criptomoedas e opções.
Gastos públicos: o governo americano entrando na dança
Existe um fator novo importante na nossa análise para o movimento deste ano: o governo dos EUA parece estar botando o pé no freio nos gastos públicos. Depois de anos jogando trilhões na economia – como os US$ 1,9 trilhão do American Rescue Plan de 2021 –, a Casa Branca sinaliza mais disciplina fiscal. Em janeiro de 2025, o Congresso aprovou um corte de 5% em despesas discricionárias, segundo o Congressional Budget Office. Isso pode esfriar a economia, reduzindo a pressão inflacionária que assombrou 2022 e 2023.
Para o S&P 500, é um cabo de guerra. Menos gasto público pode segurar os lucros das empresas, já que o governo não vai mais “regar” a economia (os consumidores) com dinheiro fácil. Mas também pode dar ao Fed espaço para cortar juros sem medo de inflação, o que anima o mercado. Em 1995, quando os EUA apertaram o cinto fiscal, o S&P 500 subiu 34% – um precedente otimista.
Pessoalmente, acredito que o aperto de cinto vai impactar negativamente o mercado no curto prazo, pois a economia aprendeu a viver de dinheiro público, desde projetos de infra-estrutura aos cheques de auxílio dados aos americanos durante o lockdown. Sem falar da enorme quantidade de funcionários públicos contratados nos últimos 4 anos! Mas no longo prazo, essas medidas de austeridade impulsionam a geração de riqueza. Trazem mais mão de obra para o setor privado, permitem a redução de impostos e a queda dos juros e criam um ambiente mais favorável aos investimentos corporativos - empresas gastam mais para crescer, investem em pesquisa e desenvolvimento, buscam novos negócios acreditando que o governo não vai pisar no pescoço delas adiante.
Tarifas de importação: medo ou exagero?
Outro ingrediente no caldeirão de 2025 são as tarifas de importação, cortesia das promessas de Donald Trump na campanha de 2024. Ele voltou à Casa Branca em janeiro de 2025 falando em taxar importações em até 20%. O mercado tremeu: tarifas altas podem encarecer produtos, reacender a inflação e apertar as margens das empresas do S&P 500 que dependem de cadeias globais, como Apple e Walmart.
Mas o impacto pode ser menor que o esperado. Em 2018, as tarifas de Trump sobre a China elevaram os preços ao consumidor em só 0,1 ponto percentual, segundo o Fed de Nova York. E, em 2025, analistas da Goldman Sachs estimam que, se implementadas na totalidade, as tarifas adicionariam apenas 0,3% à inflação anual. O S&P 500 caiu 4% em 2018 com o susto inicial, mas se recuperou logo depois. Ou seja: barulho grande, efeito nem tanto.
Psicologia: o urso na sua cabeça
Não importa o que os indicadores digam, o maior risco em um bear market é você mesmo. Estudos de behavioral finance, como os de Daniel Kahneman, mostram que perdas doem o dobro do prazer extraído dos ganhos. Isso explica por que tanta gente vende na baixa – em 2009, saques de fundos bateram recordes bem no fundo do poço, antes da virada. Segundo a Morningstar, entre 2000 e 2020, o investidor médio ganhou 7,4% ao ano, contra 9,1% do S&P 500, só por causa de decisões emocionais. E a crise foi um grande concentrador de renda: os pequenos venderam na pior hora para os grandes que, enter outras coisas, puxam as cordinhas atrás da imprensa que estimula o pânico.
Os remédios? Um plano claro, volume baixo e paciência. Desde 1929, o S&P 500 sempre se recuperou, mesmo após quedas brutais como os 86% da Grande Depressão. E em todas as crises, quem comprou perto do fundo fez fortuna. É nisso que eu estou focado.
O Brasil no meio do furacão:
Sabemos que o Ibovespa é mais sensível (frágil) que o S&P 500. Em 2022, caiu 20% em reais enquanto o dólar disparava. Então, dólar e ouro ganham peso extra na nossa realidade. Ações defensivas – energia elétrica, saneamento – também ajudam, já que têm receita estável mesmo na crise. O Brasil não é um mercado de alta qualidade! Logo, é preciso ser extremamente criterioso na escolha de ativos no nosso país. Nunca compre algo só porque está barato. Compre porque é bom, e compre mais desse bom quando estiver barato.

O rumo do S&P 500 em 2025: o que esperar?
Juntando tudo – indicadores, gastos, tarifas –, qual o cenário mais provável? Os antecedentes apontam para uma desaceleração, com risco de bear market se o S&P 500 perder os 5.500 pontos. O controle de gastos públicos é um trunfo: menos pressão inflacionária pode levar o Fed a cortar juros (o mercado precifica 50 pontos-base até dezembro de 2025, segundo a CME FedWatch), dando fôlego às ações. As tarifas preocupam, mas o impacto deve ser limitado, como em 2018. Viva o D.O.G.E! 😁
Minha aposta? O S&P 500 pode cair mais 15% nos próximos meses, mas uma recuperação no segundo semestre de 2025 é plausível, puxada por juros menores e lucros resilientes - não é o fim do mundo, nem uma festa, mas é saudável. A Bloomberg, aliás, reporta que 70% dos estrategistas esperam alta até dezembro, com mediana de 6.200 pontos. Tudo bem que os “estrategistas” costumam errar muito os pontos de inflexão do mercado, e por isso dei a eles o singelo apelido de “Continuístas” já que sempre apostam em mais do mesmo e nunca enxergam o trem se aproximando. Se a minha previsão estiver certa, estamos falando de uma queda razoável, com boas oportunidades de compra dentro de uma tendência primária de alta mantida e, nesse caso, reforçada. Esse cenário está desenhado em ciano no gráfico abaixo:

Se vivermos o cenário desenhado com as setas amarelas, o buraco é mais embaixo (35% de tombo desde o topo histórico, que só seria revisitado em 2028). Nesse caso só os bravos e cautelosos sobreviverão. 35% de queda lá fora envolve falências, muito desemprego e turbulência no campo político, pondo em questão inclusive as decisões acertadas sobre austeridade fiscal e desregulamentação. Mas se você gosta de uma boa crise e se arrepende de não ter comprado “tudo” em março de 2020 ou no fim de 2008, o Universo pode te dar mais uma chance. Aproveite-a bem.
Pra fechar, o plano de ação:
Tático: fortalecer as defesas, como ouro/prata/dólar, mesmo sabendo que a melhor hora para erguer essas defesas já passou um pouco. Consulte seu assessor de investimentos ou planejador financeiro para escolher os melhores ativos e o tamanho dessa alocação conforme o seu perfil.
Estratégico: criar uma carteira All Weather te deixa dormir tranquilo o ano todo. Nunca é cedo nem tarde para fazer isso. Trabalho na sua estratégia pessoal sempre dá bons frutos. É a minha recomendação para os dias de hoje por ser a minha recomendação todos os dias - tenha uma estratégia! Uma vez criada, execute sem se preocupar mais. Faça um balanceamento anual ou semestral da carteira que isso já acomoda os movimentos, realiza os lucros, garante o aproveitamento das oportunidades e te deixa aproveitar a vida.
Psicológico: focar no plano, ignorar o barulho e lembrar: um dia o urso vai embora.
O mercado é como o céu: tem nuvens e tempestades, tem ventos fortes, mas o Sol sempre volta. Com preparo e cabeça fria, você passa pelo bear market – e por 2025 – inteiro. Namastê! 🙏
Disclaimer
Este texto reflete a opinião do autor e não constitui uma sugestão, recomendação, indicação e/ou aconselhamento de investimento por parte do Monge Investidor. Nenhuma decisão de investimento deve ser tomada com base nas informações ora apresentadas, cabendo unicamente ao leitor a responsabilidade sobre qualquer decisão que venha a tomar. Todo investimento feito no mercado financeiro envolve riscos, e resultados bons no passado não garantem ganhos no futuro. O autor detém e/ou negocia ativos ligados ao tema abordado em sua carteira proprietária, mas não recebe qualquer tipo de benefício vinculado a estes ativos para fazer avaliações positivas ou negativas. O autor pode realizar compras e vendas dos papéis citados neste estudo (e de outros ativos quaisquer) sem aviso prévio. O Monge Investidor não se compromete a manter o presente artigo atualizado.
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